FUNDAMENTALISMO LINGUÍSTICO NA PROPOSTA DA LINGUAGEM INCLUSIVA

Hudson Marques da Silva

Resumo


Este ensaio propõe uma reflexão sobre as premissas que fundamentam a proposta da linguagem inclusiva (neutra): o uso do masculino-generalizador e ausência de pronomes não-binários na língua promoveriam o sexismo (masculinismo). A abordagem teórica mobiliza brevemente conceitos da Filosofia da Linguagem (PLATÃO, 1988; WITTGENSTEIN, 2000), da Linguística (SAUSSURE, 2006; CÂMARA JR., 2002; 2004) e dos Estudos Discursivos (PÊCHEUX, 1995; 1997), entre outros. Sugere-se que o signo linguístico não mantém relação natural ou racional com seu referente, bem como a propriedade de sentido do processo enunciativo/discursivo não emana das palavras em si, mas do contexto e das intenções discursivas dadas pelos interlocutores. Portanto, não parecem plausíveis ou linguisticamente justificáveis as premissas do movimento da linguagem inclusiva, que revela uma visão fundamentalista da língua.


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Referências


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