INCLUSÃO DIGITAL COMO PARTE DO CURRÍCULO ESCOLAR

AUREO GUILHERME MENDONCA

Resumo


O planeta hoje é, de forma inquestionável, profundamente digital. Toda a vida humana perpassa pelos circuitos da rede. Ficar fora tem um significado muito maior do que apenas em seu sentido literal. Não saber se comunicar digitalmente pode trazer uma forma de isolamento que leva à uma invisibilidade que pode tornar a vida quase impossível de ser levada em suas mínimas exigências sócio-econômicas. Se as pessoas não forem educadas para saber lidar com esse novo processo de convivência o grau de exclusão social do planeta tende a aumentar em larga escala. E o que as escolas tem feito para preparar seus alunos para esse mundo cibernético? Honestamente? Muito pouco ou, para falar a verdade, quase nada. Esse é o nosso ponto neste artigo: refletir sobre os rumos da escola nesse século XXI comandado por pixels e algorítimos.

Palavras-chave: Inclusão digital; Educação; Justiça social.


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Referências


Então as pessoas precisarão pensar a respeito. A única questão é saber a qual desses dois lados do problema elas voltarão sua atenção. Ou elas vão pensar: “Preciso tomar cuidado com o que digo, preciso me conformar” a cada momento, a cada interação, ou elas pensarão: “Preciso dominar os pequenos componentes dessa tecnologia e instalar programas para me proteger, para que eu possa me expressar livremente o que penso e me comunicar livremente com os meus amigos e com as pessoas com quem me importo”. Se as pessoas não adotarem a segunda abordagem, teremos uma propagação universal do politicamente correto, porque os autocensores estarão presentes até quando se comunicarem com os melhores amigos, e essas pessoas se afastarão da atuação política do mundo.

ASSANGE, Julian. Cypherpunks. São Paulo: Boitempo, 2013.

É transformando a totalidade que se transformam as partes e não o contrário. No primeiro caso, sua ação, que estaria baseada numa visão ingênua, meramente “focalista” da realidade, não poderia constituir um compromisso.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1983.

A inclusão digital é, portanto, um artifício de engenharia social criado para estender ao maior número possível de cidadãos os eventuais benefícios que uma elite já desfruta integralmente, como parte “natural” de sua inserção na sociedade. Ela despende esforços e recursos públicos e privados para generalizar o conhecimento de técnicas que já estão “naturalmente” disponíveis a uma minoria, advindo daí a percepção de sua estreita relação com a ideia de “democracia”: a inclusão digital repousaria sobre o pressuposto ético da igualdade.

CAZELOTO, Edilson. Inclusão digital – Uma visão crítica. São Paulo: Editora Senac, 2008.

A desigualdade social no campo das comunicações, na sociedade moderna de consumo de massas, não se expressa somente no acesso ao bem material – rádio, telefone, televisão, internet -, mas também na capacidade do usuário de retirar, a partir de sua capacitação intelectual e profissional, o máximo proveito das potencialidades oferecidas por cada instrumento e comunicação e informação.

SORJ, Bernardo. brasil@povo.com – A luta contra a desigualdade na Sociedade da Informação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2003.

Segundo autores de um estudo voltado para essa problemática, achar que os membros da Google Generation são experts na arte da busca digital de informação “é um mito perigoso”. (...) “Muitas pessoas supõem que, pelo fato de os jovens terem fluência em mídia digital, eles sejam igualmente perspicazes no que diz respeito a tudo que encontram nesse ambiente. Nosso trabalho mostra o oposto”. No final das contas, essa incompetência se exprime com uma “espantosa e desalentadora consistência”. Para os autores do estudo, o problema é tão profundo que chega às raias de uma “ameaça à democracia”.

DESMURGET, Michel. A fábrica de cretinos digitais. São Paulo: Vestígio, 2021.


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